A ilha do Faial é um destino de excelência no arquipélago dos Açores
A exuberante natureza tem-se, aos poucos, transformado na maior atração da ilha, que, com um pé na tradição e outro na modernidade, se tem assumido como um destino de excelência no arquipélago.
Chegue-se por mar ou pelo ar, há um ritual obrigatório, ao qual é impossível fugir, mal se entra na Horta: entrar no PETER CAFÉ SPORT, pedir um gin e, se o tempo o permitir, ir até à esplanada apreciar a vista para a vizinha montanha do Pico, ali mesmo em frente. Fez 100 ano0s em 2018 que o avô do atual proprietário, José Henrique Azevedo, abriu as portas deste lendário estabelecimento, tornado mundialmente famoso a partir da década de 1960, quando a ilha passou a ser ponto de paragem obrigatória para as tripulações de veleiros de recreio, durante as travessias do Atlântico.
Além de bar e restaurante, a casa funcionava também como posto de correio para os solitários marinheiros e ainda permanecem por lá algumas caixas com correspondência por entregar. José, hoje com 58 anos, tinha apenas seis quando começou a frequentar o café do avô, no qual trabalha desde o final dos anos 1970, que mais tarde herdou do pai, cumprindo a tradição familiar. Foi por sua iniciativa que, em 1986, nasceu, no piso superior, o Museu do Peter, dedicado ao scrimshaw, a arte de esculpir os dentes e ossos de baleia.
O Peter Café Sport foi a primeira empresa na ilha a apostar na observação de baleias, uma atividade que atrai cada vez mais visitantes ao Faial. «Há que inovar as tradições, adaptando-as aos novos tempos», diz o empresário, que é também sócio do restaurante PRAYA, aberto no ano passado na praia do Almoxarife, a cinco kilómetros da Horta.
A baía de origem vulcânica de Porto Pim é o principal centro balnear da ilha.
O projeto de recuperação deste velho armazém, situado no final do paredão, vale por si só uma visita ao restaurante, que em pouco tempo se afirmou pela originalidade da ementa, criada por Luís Baena e confecionada no local pela chef Diana Canastra, uma minhota de 32 anos que nunca antes tinha estado nos Açores. No Praya, a aposta recai nos petiscos e em pratos pequenos, como as lulas fritas com molho tártaro e o tutano de vaca açoriana. Mas também há pratos de maior substância, como a recriação do polvo à lagareiro, os peixes do dia ou os famosos bifes. Para concluir, o melhor é aceitar a sugestão da chef e provar uma das mais famosas sobremesas da casa, o leite-creme de chá preto.
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Um gastrobar na Horta
A recriação, de forma contemporânea, dos sabores açorianos serviu também de mote ao PRÍNCIPE, um gastrobar aberto na Horta há pouco mais de um ano, pelo empresário russo Pavel Kisilev, que já antes inaugurara no Pico o restaurante Casa Âncora. O propósito, como explica o chefe de sala Hernâni Furtado, é idêntico ao restaurante irmão do Pico, «tanto na informalidade como na aposta em produtos locais», depois tratados pelo chef eslovaco Stepen Daldík. Na carta, sobressaem propostas como a salada «mar adentro» (polvo, repolho, ananás, caviar e algas), o peixe com coco, um dos pratos de assinatura da casa, e o «Atributo Chá Açoriano», uma original sobremesa de tarte de chá preto com creme de chá verde e laranja.
Quem preferir sabores mais tradicionais, também tem por onde escolher. É o caso do ATLÉTICO, recentemente remodelado, que se tem afirmado como um templo dos bons sabores regionais. Valorizam-se as carnes e o peixe fresco da ilha, que pouco mais necessitam que uma breve passagem pelas brasas. E mesmo em frente à praia de Porto Pim, também na Horta, o restaurante GENUÍNO é outro local onde nova paragem se impõe. Pela comida, mas também pela história.
Os restaurantes fazem brilhar os melhores produtos regionais, que vêm do mar e da terra. Há cada vez mais boas opções.
O proprietário, Genuíno Madruga, 67 anos, é um antigo pescador e conhecido velejador, que por duas vezes deu a volta ao mundo em solitário. À entrada do restaurante, um enorme mapa-múndi recorda as suas viagens. Apesar de a faina ter sido sempre a sua vida, os velejadores solitários que ia conhecendo na Horta alimentaram-lhe o sonho de um dia vir a ser um deles. Conseguiu-o em 2002, ao completar a volta ao mundo iniciada dois anos antes, a bordo do veleiro Hemingway. Repetiria a aventura entre 2007 e 2009, quando se tornou o primeiro português a cruzar o Cabo Horn, o ponto mais meridional da América do Sul. Muitas das recordações dessas viagens, que lhe valeram o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique decoram o restaurante, aberto há quatro anos e onde se serve «apenas o nosso melhor peixe».
Entre vulcões e baleias
A primeira grande erupção vulcânica, que originou a formação da ilha, deu-se há cerca de 800 mil anos, no local hoje conhecido como Porto da Boca da Ribeira. Aqui, junto ao nível do mar, tem início a Grande Rota Pedestre Costa a Costa, que cruza o Faial de leste a oeste, ao longo de 36 quilómetros, acompanhando a evolução geológica da ilha ao longo de cones vulcânicos, crateras, furnas e algares, desde a erupção mais antiga até à mais recente, ocorrida nos Capelinhos há apenas 60 anos. Aí, o CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DO VULCÃO DOS CAPELINHOS é outro dos locais de visita obrigatória.
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Foi inaugurado em 2008 e é hoje o museu mais visitado no arquipélago. O arrojado edifício, da autoria do arquiteto Nuno Ribeiro Lopes, fica nos pisos térreos do antigo farol, hoje totalmente soterrados pelas cinzas então projetadas, e é composto por vários espaços visitáveis – incluindo a torre do velho farol –, permitindo reviver, de forma interativa, os fenómenos geológicos que levaram à formação destas ilhas. O último aconteceu em 1998, «o grande sismo», como por aqui ainda é lembrado, é também um marco na vida de Victor Hucke e Anja Tettenborn, 52 e 51 anos. Quando aqui chegaram, em meados dos anos 1990, já tinham corrido meio mundo, mas, como recorda Victor, «foi amor à primeira vista». Já então, o objetivo deste casal alemão era dedicar-se ao turismo, mas o tal «grande sismo» haveria de lhes trocar as voltas, arrasando quase por completo a casa que entretanto haviam adquirido e começado a recuperar.
A origem vulcânica das ilhas está bem explicada no Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos.
«Era mais fácil ter feito as malas e partir, mas não podíamos desistir assim do nosso paraíso», recorda Victor, que hoje já se considera um verdadeiro açoriano – ou melhor, faialense. Há alguns anos, decidiram transformar em negócio outra das suas paixões, a equitação, com a abertura do PÁTIO HORSE & LODGE, uma empresa de passeios e férias a cavalo nas ilhas de Faial e Pico. Entretanto, alargaram também a oferta ao alojamento. O Lodge, assim se chama, fica na zona rural dos Cedros, na costa norte, e é composto por quatro quartos e um apartamento, onde o design contemporâneo se mescla com a tradição da ilha. Apesar de já terem passado mais de 30 anos sobre a proibição da caça, a tradição baleeira mantém-se viva. No velho posto de vigia, os olhos do vigia Martins mantêm-se bem atentos, à procura dos cetáceos na vastidão do oceano – já não para os caçar, mas apenas vê-los de perto. Hoje, como antigamente, as baleias continuam a ser uma fonte de rendimento para o Faial, agora fomentada pelos milhares de visitantes que chegam para navegar lado a lado com estes enormes mamíferos.
«Os vigias continuam a ser a peça central. Sem os seus olhos experientes e sem as suas indicações nada disto seria possível», reconhece Pedro Filipe, um dos sócios da empresa Azores Experience. Atualmente com 36 anos, Martins era criança quando a caça foi proibida, mas aprendeu o ofício com quem o sabia. A importância da caça na ilha está bem patente na antiga FÁBRICA DA BALEIA, em Porto Pim, hoje transformada num centro interpretativo.
A baía de origem vulcânica de Porto Pim é o principal centro balnear da ilha, onde mesmo no outono é comum ver gente a nadar. É esta a vista que se tem do PORTO PIM BAY, um alojamento local inaugurado no ano passado, com cinco apartamentos distribuídos à volta de dois pátios e um jardim com plantas aromáticas. Os hóspedes têm ao dispor bicicletas e caiaques para explorar a praia à porta de casa. «Queremos que quem nos visita perceba a sorte que temos em viver aqui», diz a proprietária, Rosa Dart, 42 anos.
Foi mais ou menos este mesmo sentimento que fez regressar do Porto o antigo bailarino Pedro Rosa, 35 anos. Isso e a insistência da mulher, a professora de música Antónia Reis, 38 anos. Vieram desbravar um sonho antigo. Num terreno da família dele, onde eram cultivadas palmeiras e bananeiras, abriram, ainda não há um ano, o AZUL SINGULAR, o primeiro glamping dos Açores, com oito unidades de alojamento, entre yurts (tendas tradicionais da Mongólia) e as batizadas Ata-Desata, tendas híbridas pensadas e construídas de raiz para este projeto.
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Foto: Video Youtube